segunda-feira, 16 de março de 2009

Que desenvolvimento para a Ilha do Maio - I?

Numa crónica publicada no antigo jornal "Tribuna", nos anos 90, questionei naquela altura o estado em que se encontrava o desenvolvimento da ilha do Maio. Foi uma atitude que me causou alguns desabores, devido as reacções que o artigo suscitou entre a classe maiense e não só. Alguns meses mais tarde voltei a carga, desta vez no ex-jornal "Voz di Povo" - o órgão de comunicação social onde trabalhei por mais de quinze anos e que por mera conveniência política dos sucessos governos conheceu vários nomes até chegar ao jornal "Horizonte" e a sua consequente extinção em 2007. Era um artigo com vários destinatários mas desta vez não deixei de criticar também algumas instituições locais pela forma como prestavam os seus serviços aos maienses. Na edição seguinte foram publicados inúmeras cartas em jeito de resposta, vindos principalmente dos presumíveis visados no meu artigo. Evidentemente que essas pessoas tinham que defender a "honra" e o "bom nome" da instituição que representavam, embora reconheço que o faziam apenas para dar satisfação dos seus superiores hierárquicos ou talvez a algum público. Lembro-me de ter respondido a todos e de ter lançado um desafio a quem conseguisse provar de que eu estava a mentir. Houve até cartas anónimas que chegaram às minhas mãos, talvez com objectivo de me intimidar. Convém dizer que não recebi somente críticas, houve quem achou pertinente o assunto abordado, até porque eram unânimes as opiniões entre os maienses de que o Maio caminhava de mal a pior em termos de desenvolvimento. A partir daí nunca mais parei de escrever sobre o processo do desenvolvimento do Maio e os arquivos estão aí para provar.
Fico, contudo, satisfeito por ver hoje que muitos patrícios meus têm feito o mesmo em prol do progresso da nossa querida ilha, o que é bom sinal, pois quanto mais alto for o grito de revolta melhor ainda, até sermos ouvidos por quem tem nas mãos a responsabilidade pelo desenvolvimento do país.
A propósito, comentava há dias com um conterrâneo meu sobre a tão propagandeada fábrica de cimento que nunca mais sai do papel. Já se sabe que o governo tenciona, pelo menos teoricamente, instalar a fábrica de cimento em Pedra Badejo com a matéria-prima proveniente do Maio. O meu amigo tal como eu somos contra. Afinal não faz sentido ter a matéria-prima num sítio e instalar a fábrica noutro. O argumento que tem chegado aos meus ouvidos é de que uma cimenteira no Maio pode trazer consequências desastrosas para o meio ambiente local, levando em consideração que se pretende transformar a ilha num dos destinos turísticos privilegiados do país, aliás tal como se fez no Sal e agora na Boa Vista. Como é óbvio, este argumento não convence ninguém caso tal venha a ser a posição definitiva do governo.
Alguém escreveu algures por aí que se está a fazer a transferência de fábrica do Maio para Pedra Badejo o que também é errado, porque não se pode transferir o que ainda não existe. Seja como for devemos é estar atentos a todas e quaisquer movimentações nesse sentido. Nós, os maienses, não podemos consentir que nos seja subtraído uma dádiva de deus a pretexto de um grande desenvolvimento turístico que mal conhecemos os contornos.
Uma infraestrutura de cimenteira no Maio poderá abrir novas perspectivas para o desenvolvimento da ilha e também para todo Cabo Verde. Afinal estamos a falar de uma matéria-prima insubstituível no mercado de construção civil.
Fala-se muito no estudo do impacto ambiental ou a ausência deste. Desconhecemos por ora quaisquer estudos que indicam para um dos sentidos: o que admite ou rejeita a instalação de uma cimenteira na ilha. Contudo, devemos aguardar para ver o que nos reserva esse tal estudo. Cá por mim não acredito num desfecho desfavorável às aspirações dos maienses. Com tanta tecnologia que hoje se conhece há de haver uma que permita construir uma fábrica de cimento numa ilha com características semelhantes as do Maio e que não ponha em causa o seu ecossistema.

[...]

5 comentários:

  1. Excelente Tony Ramos,e Parabens pelo blog
    nao deves parar, existe muita coisa ainda a ser discutida a cerca dos tópicos exposto acima.
    Um abraço,
    e viva o Maio a ilha do futuro breve!
    Calú Ramos

    ResponderEliminar
  2. Esse artigo é interessante, mas muita coisa a gente vai acrescentar ainda...
    Ricardino Rocha
    www.ricardinorocha.blogspot.com

    ResponderEliminar
  3. Antes de mais parabéns pelo artigo e pelo blogue. Como maense fico muito contente e orgulhoso ao ver meus conterrâneos a levantar voz em defesa da nossa ilha e do nosso povo. Eu sou colaborador do blogue Voz di Djarmai (http://vozdidjarmai.blogspot.com) que foi criado exactamente para este fim: dar voz aos maenses. Força e um Abraço Maense.

    ResponderEliminar